As palavras da vocação

As palavras da vocação segundo o Papa Francisco

Domingo 3 maio, celebrou-se em toda a igreja a Jornada mundial de oração pelas vocações. Papa Francisco escreveu para a ocasião uma belíssima mensagem, comentando um texto evangélico que nos conta a singular experiência acontecida a Jesus e Pedro durante uma noite de tempestade no lago de Tiberíades (cfr. Mt 14,22-33). Nele sublinha algumas palavras: as palavras da vocação.

 

As palavras da vocação segundo o Papa Francisco

 

A travessia no lago evoca a viagem da nossa existência

Depois da multiplicação dos pães, que tinha entusiasmado a multidão, Jesus ordenas aos seus que subam para a barca e o precedem na outra margem, enquanto Ele despedia as pessoas.

A imagem desta travessia no lago evoca de certo modo a viagem da nossa existência. A barca da nossa vida, de facto, avança lentamente, sempre inquieta porque à procura de um porto feliz, pronta a enfrentar os riscos e as oportunidades do mar, mas também desejosa de receber do timoneiro uma viragem que conduza finalmente à rota certa.

Por vezes, porém, pode-lhe acontecer perder-se, deixar-se encadear pelas ilusões em vez de seguir o farol luminoso que a conduz ao porto seguro, ou de ser desafiada pelos ventos contrários das dificuldades, das dúvidas e dos medos.

Sucede assim também no coração dos discípulos, os quais, chamados a seguir o Mestre de Nazaré, se devem decidir a passar para outra margem, escolhendo com coragem de abandonar as próprias seguranças e pôr-se no seguimento do Senhor.

 

Esta aventura não é pacífica: chega a noite, sopra o vento contrário, a barca é baloiçada pelas ondas, e o medo de não conseguir estar à altura do chamamento corre o risco de os arrastar.

O Evangelho diz-nos, porém, que na aventura desta não fácil viagem não estamos sozinhos. O Senhor, quase forçando a aurora no coração da noite, caminha sobre as águas agitadas e alcança os discípulos, convida Pedro a ir-lhe ao encontro sobre as ondas, salva-o quando o vê afundar, e por fim sobe para a barca e faz cessar o vento.

 

A primeira palavra da vocação, então, é gratidão

Navegar em direção à rota certa não é uma tarefa só dos nossos esforços, nem depende só dos percursos que escolhemos fazer. A realização de nós próprios e dos nossos projetos de vida não é o resultado matemático daquilo que decidimos dentro de um “eu” isolado; ao contrário, é antes de mais a resposta a um chamamento que nos vem do Alto.

É o Senhor que nos indica a margem para onde ir e que, antes ainda, nos dá a coragem de subir para a barca; é Ele, enquanto chama, se faz nosso timoneiro, para nos acompanhar, para nos mostrar a direção, impedir que nos encalhemos nas rochas da indecisão e nos tornemos capazes até de caminhar sobre as águas agitadas.

Cada vocação nasce daquele olhar amoroso com que o Senhor veio ao nosso encontro, talvez precisamente enquanto a nossa barca estava no meio da tempestade. «Mais que uma escolha nossa, é a resposta ao chamamento gratuito do Senhor» (Carta aos sacerdotes, 4 agosto 2019); por isso, conseguiremos descobri-la e abraçá-la quando o nosso coração se abrir à gratidão e souber perceber a passagem de Deus na nossa vida.

Quando os discípulos vêem Jesus aproximar-se caminhando sobre as águas, inicialmente pensam que se trate de um fantasma e têm medo. Mas logo Jesus os tranquiliza com uma palavra que deve sempre acompanhar a nossa vida e o nosso caminho vocacional: «Coragem, sou eu, não tenhais medo!» (v. 27). 

 

Precisamente esta é a segunda palavra que queria entregar-vos: coragem.

Aquilo que muitas vezes nos impede de caminhar, de crescer, de escolher a estrada que o Senhor traça para nós são os fantasmas que se agitam no nosso coração.

 

Quando somos chamados a deixar a nossa vida segura e abraçar um estado de vida – como o matrimónio, o sacerdócio ordenado, a vida consagrada –, a primeira reacção é representada pelo “fantasma da incredulidade”: não é possível que esta vocação seja para mim; trata-se de verdade da estrada certa? O Senhor pede isto precisamente a mim?

 

E, pouco a pouco, crescem em nós todas aquelas considerações, aquelas justificações, e aqueles cálculos que nos fazem perder o entusiasmo, nos confundem e nos deixam paralisados na margem de partida: pensamos ter um deslumbramento, não estar à altura, ter simplesmente visto um fantasma a expulsar.

O Senhor sabe que uma escolha fundamental de vida – como a de se casar ou se consagrar de modo especial ao seu serviço – exige coragem

Ele conhece as questões, as dúvidas e as dificuldades que agitam a barca do nosso coração, e por isso tranquiliza-nos: “Não tenhas medo, eu estou contigo!”.

 

A fé na sua presença que vem ao nosso encontro e nos acompanha, mesmo quando mar está em tempestade, liberta-nos daquela preguiça que já tive modo de definir  «tristeza adocicada» (Carta aos sacerdotes, 4 agosto 2019), isto é aquele desencorajamento interior que nos bloqueia e não nos permite saborear a beleza da vocação.

 

Na Carta aos sacerdotes falei também do sofrimento, mas aqui queria traduzir diversamente esta palavra e referir-me à fadiga. 

Toda a vocação comporta um compromisso. O Senhor chama-nos porque quer tornar-nos como Pedro, capazes de “caminhar sobre as águas”, isto é, de tomar nas mãos a nossa vida para a pôr ao serviço do Evangelho, nos modos concretos e quotidianos que Ele nos indica, e especialmente nas diversas formas de vocação laical, presbiteral e de vida consagrada. Mas nós assemelhamo-nos ao Apóstolo: temos desejo de entusiasmo, porém, ao mesmo tempo, estamos marcados por fraquezas e temores.

Se nos deixamos oprimir pelo pensamento das responsabilidades que nos esperam – na vida matrimonial ou no ministério sacerdotal – ou das adversidades que se apresentarão, então desviaremos depressa o olhar de Jesus, e, como Pedro, correremos o risco de afundar. Ao contrário, apesar das nossas fragilidades e pobrezas, a fé permite-nos caminhar ao encontro do Senhor Ressuscitado e vencer também as tempestades.

 

Ele estende-nos a mão quando pelo cansaço ou por medo corremos o risco de nos afundar, e dá-nos o arremesso necessário para viver a nossa vocação com alegria e entusiasmo.

Por fim, quando Jesus sobe para a barca, o vento cessa e as ondas acalmam-se. É uma bela imagem daquilo que o Senhor realiza na nossa vida e nos tumultos da história, especialmente quando estamos na tempestade: Ele comanda aos ventos contrários que se calem, e as forças do mal, do medo, da resignação não têm mais poder sobre nós.

Na vocação específica que somos chamados a viver, estes ventos podem-nos arrasar. Penso naqueles que assumem importantes tarefas na sociedade civil, nos esposos que não por acaso, gosto de definir “os corajosos”, e especialmente naqueles que abraçam a vida consagrada e o sacerdócio.

 

Conheço a vossa fadiga, as solidões que por vezes atormentam o coração, o risco da rotina que pouco a pouco apaga o fogo ardente do chamamento, o fardo da incerteza e da precariedade dos nossos tempos, o medo do futuro. Coragem, não tenhais medo! Jesus está ao nosso lado e, se o reconhecermos como único Senhor da nossa vida, Ele estende-nos a mão e agarra-nos para nos salvar.

 

E então, mesmo no meio das ondas, a nossa vida abre-se ao louvor. 

É esta a última palavra da vocação, e quer ser também o convite a cultivar a atitude interior de Maria Santíssima: grata pelo olhar de Deus que se poisou sobre Ela, entregando na fé os medos e as perturbações, abraçando com coragem o chamamento, Ela fez da sua vida um eterno canto de louvor ao Senhor.

 

Caríssimos, especialmente neste Dia, mas também na normal acção pastoral das nossas comunidades, desejo que a Igreja percorra este caminho ao serviço das vocações, abrindo brechas no coração de cada fiel, para que cada um possa descobrir com gratidão o chamamento que Deus lhe dirige, encontrar a coragem de dizer “sim”, vencer a fadiga na fé em Cristo e, por fim, oferecer a própria vida como cântico de louvor por Deus, pelos irmãos e pelo mundo.

Que a Virgem maria nos acompanhe e interceda por nós.

 

Papa Francisco

 

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