II DOMINGO DE PÁSCOA
8 de Abril de 2018
AS LEITURAS DO DIA
Act 4, 32-35: Um só coração e uma só alma.
Salmo 117: Aclamai o senhor, porque Ele é bom: o seu amor é para sempre.
1Jo 5, 1-6: Todo o que nasceu de Deus vence o mundo.
Evangelho: Jo 20, 19-31: Oito dias depois, veio Jesus…
A PALAVRA É MEDITADA
As portas estavam fechadas por medo dos judeus: assim começa o evangelho do segundo domingo da Páscoa. O medo é um sentimento que nós já conhecemos no evangelho de S. João: o medo da multidão que não ousa falar em público de Jesus; o medo dos pais do cego curado que temem as reacções da autoridade; o medo de alguns notáveis que não têm a coragem de se declarar por medo de serem expulsos da sinagoga. Em todos os casos o medo é suscitado pelas autoridades, que são hostis relativamente a Jesus. Mas se o medo pode entrar no coração do homem, é unicamente porque aí encontra um ponto de apoio. Não serve por isso fechar as portas. O medo entra no profundo se somos chantageados, se algo nos importa mais que Jesus.
Agora que o Senhor ressuscitou, não há mais razão para ter medo. Até mesmo a morte é vencida: de que havemos de ter medo?
Para se fazer reconhecer o Ressuscitado escolhe os sinais da crucifixão: o lado e as mãos trespassadas. A ressurreição não faz esquecer a Cruz: transfigura-a. As marcas da crucifixão ainda são visíveis, porque são precisamente elas a indicarem a identidade do ressuscitado e a indicar a estrada que o discípulo deve percorrer para o alcançar.
«A Paz esteja convosco» é a saudação do Senhor ressuscitado. Mas é uma paz diversa de como o mundo a pensa. Diversa porque é dom de Deus, não simples conquista da boa vontade do homem. Diversa, porque vai à raiz, lá onde o homem decide a escolha da mentira ou da verdade. Diversa porque é uma paz que sabe pagar o preço da verdade. A paz de Jesus não permite eliminar a Cruz – nem na vida do cristão nem na história do mundo – mas torna certos da vitória: «Eu venci o mundo».
Os discípulos passam do medo à alegria: «alegraram-se ao ver o Senhor». Como a paz, também a alegria é um dom do Ressuscitado. Trata-se de uma alegria que afunda a suas raízes no amor. Paz e alegria são ao mesmo tempo o dom do Ressuscitado e as marcas para o reconhecer. Mas é preciso romper com o estar agarrados a nós próprios. Só assim somos libertados do medo. A paz e a alegria reflorescem na liberdade e no dom de si, duas condições sem as quais é impossível alguma experiência da presença do Ressuscitado.
Ao lado da fé dos outros apóstolos, está a dúvida de Tomé. Tomé conheceu a dúvida, como às vezes acontece, mas isto não lhe impediu de chegar, primeiro entre os apóstolos, a uma fé plena: «Meu Senhor e meu Deus». Não raramente também uma grande fé passa através da dúvida.
A PALAVRA É REZADA
Não é fácil Jesus ressuscitado,
acolher a tua presença porque agora comunicas de modo novo.
É preciso ter os olhos da fé para te reconhecer
e para te fazer espaço na nossa existência.
É preciso ter um coração atento
para entender a tua palavra e a pôr em prática.
É preciso aceitar-te como um dom que vai além
das nossas lógicas do ver e do tocar.
Eis a razão por que hoje nos sentimos
extraordinariamente próximos de Tomé:
das suas reticencias e das suas dúvidas,
das suas perplexidades e dos seus desejos.
Precisamente porque te contemplámos pregado na cruz
agora temos dificuldade em te imaginar vivo
e presente no meio de nós.
E é por isso que nos pedes para fazer o mesmo caminho de Tomé,
de nos abandonarmos ao teu amor,
de deixar cair todas as barreiras que nos separam de ti.
E é por isso que nos pedes para fazer nossa a sua resposta:
«Meu Senhor e meu Deus!»,
e nos declaras felizes porque sem ter visto,
sem ter tocado, confiámos em ti.
Sim, Senhor, não é fácil acreditar em ti, mas quando acontece
Conhecemos uma alegria e uma paz sem medida.
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)