Encontro com a Palavra de Deus – Domingo da Ressurreição - ANO C

DOMINGO DE PÁSCOA – ANO C

    

                           21 de Abril de 2019

 

AS LEITURAS DO DIA 

 

Act 10, 34, 37-43: Deus ungiu com a força do Espirito Santo, a Jesus de Nazaré.

Salmo 117: Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

 

Col 3, 1-4: Afeiçoai-vos às cosias do alto, não às da terra.

Evangelho Jo 20, 1-9: Porque procurais entre os mortos, aquele que está vivo?

 

A PALAVRA É MEDITADA

Pedro e João correm no silêncio da cidade imersa no sono. Os vendedores tiram para fora as mercadorias para o dia depois do sábado de repouso. O sol está a levantar-se e inunda de luz a pedra de cor ocre de Jerusalém. Entre os becos estreitos de Jerusalém, pisando a calçada acabada de refazer pelo grande rei Herodes, com respiro curto, os dois saem da cidade.

Correm deixando de lado a pedreira em desuso reutilizada pelos romanos. Os paus verticais, como árvores ressequidas, despontam para o alto, esperando novos condenados. O sangue coagulado pinta de vermelho o lenho escuro. Correm, ainda, falta a respiração, a túnica atrapalha a corrida.

Pedro, mais velho, atrasa-se: descem rapidamente para lá da pedreira. Os soldados romanos de guarda desapareceram, o túmulo de José de Arimateia está sem a pesada pedra que bloqueava a sua entrada.  

João espera. Pensa no rosto desolado de Maria, dez minutos antes, que os tinha tirado para fora da cama falando de Jesus. Chega Pedro. João olha-o demoradamente, depois baixam a cabeça e entram.

Nada. Jesus desapareceu. Nada, só o lençol, como que esvaziado, e o sudário dobrado. Nada. Jesus desapareceu.  

Tudo iniciou com aquela corrida, amigos. Aquele túmulo vazio, último dramático presente do discípulo José, rico e poderoso, que não tinha podido salvar da morte o seu Mestre, ficou ali, em Jerusalém, mudo testemunho da ressurreição.

Adriano, o imperador, tinha-a mandado encher de terra, e tinha-se tornado, juntamente com a pedreira desativada, a muralha que apoiava – ironia da sorte – o templo pagão de Júpiter. Aelia Capitolina, tinha chamado a rebelde Jerusalém, e com o novo planeamento urbano, o imperador queria varrer qualquer memória de judeus e das suas incompreensíveis disputas. Três séculos depois tinha sido trazida à luz a pela devota Helena, mãe do imperador cristão Constantino.

O túmulo ainda ali está: construíram uma imensa Basílica, foi objeto de peregrinação por um milénio e meio, tentaram destrui-la, pedaço por pedaço, por causa da fúria de um sultão que – evidentemente – não conhecia o Corão. Agora está coberta de mármores, o túmulo, dividida entre mil confissões cristãs que reivindicam a propriedade.

Não importa amigos. Está ali, aquele túmulo, exatamente ali onde o encontraram pedro e João.  

E está vazio.

Toda a nossa fé está construída sobre a ausência de um cadáver, a morte foi vencida. O Deus nu, pregado, levantado, evidente, o Deus derrotado e desolado, o Deus deposto sobre a fria pedra já não está mais aqui, ressuscitou.  

Ressuscitado. Não reanimado, não vivo na nossa recordação consoladora ou coisas do género. Não, Jesus está verdadeiramente vivo, ressuscitado, presente para sempre. Não é fácil acreditar, sabemo-lo bem. Encontraremos, nestes cinquenta dias, a fadiga dos apóstolos, que é a nossa, a converter o coração a esta desconcertante novidade. É preciso fé para superar o próprio sofrimento. Todos temos alguma razão para sentir próximo Jesus crucificado. Todos nos comovemos diante de tal tormento, todos sabemos partilhar a dor que é experiência comum de todo o homem.

Mas alegrar-nos não, alegrar-se significa sair da própria dor, não amá-la, superá-la, abandoná-la. Esta manhã corramos também nós. Páscoa, para além das amêndoas e ovos de chocolate, e dos sinos que tocam de festa, é a vitória do amor, a plenitude d avida. A aposta, terrível, de um Deus abandonado à nossa vontade, está vencida. A nós, agora, toca acreditar, viver como ressuscitados, ver as ligaduras, como João e Pedro.

A nós, discípulos atarefados na corrida, sempre atrasados relativamente à força explosiva deste Deus, resta agora o desafio da fé.  

Jesus ressuscitou, deixemos de procurar o crucificado, deixemos de chorar e lamentar um Deus ausente. Jesus ressuscitou.

 

 

A PALAVRA É REZADA

 

Senhor, que nenhuma nova manhã

venha iluminar a minha vida  

sem que o meu pensamento se dirija à tua ressurreição  

e sem que em espirito eu vá, com os meus pobres aromas,  

ao sepulcro vazio do jardim!

Que cada manhã seja, para mim, manhã de Páscoa!

E que todos os dias, cada despertar, com a alegria da Páscoa,  

me chegue também a conversão profunda,

aquela que saiba, em todas as situações e m todas as pessoas,  

conhecer-te como queres ser conhecido hoje,  

não como me parecias ontem, mas como te mostras a mim agora.  

Que cada um dos meus despertares,  

seja um acordar para a tua presença verdadeira,  

um encontro “pascal com o Cristo no horto”,

este Cristo por vezes inesperado.  

Que cada episódio da jornada  

seja um momento em que eu te ouça chamar-me pelo nome,  

como chamaste Maria!

Concede-me, então, que me volte para ti.  

Concede-me que responda com uma palavra,

dizer-te uma só palavra, mas com todo o coração: «Meu Mestre!»

Ámen                                

 

(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)


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