XII DOMINGO TEMPO COMUM – ANO A
25 de Junho de 2017
ANO A
AS LEITURAS DO DIA
Jer 20, 10-13: Salvou a vida dos pobres das mãos dos perversos.
Salmo 68: Pela vossa grande misericórdia, atendei-me Senhor.
Rom 5, 12-15: O dom gratuito não é como a falta.
Evangelho: Mt 10, 26-33: Não temais os que matam o corpo.
A PALAVRA É MEDITADA
"Não há nada escondido que não deva ser revelado, e de secreto que não deva ser manifestado”.
Aparecem certamente obscuras estas palavras de Jesus que lemos na abertura do texto evangélico deste domingo. Palavra obscuras, mas, por aquilo que conseguimos compreender, palavras também duvidosas. De verdade, tem que se revelar todos os segredos, e descobrir tudo aquilo que está escondido? Não é por acaso excessiva uma pretensão do género?
Tal pretensão aparece-nos duvidosa sobretudo hoje, diante de uma sociedade que quer tutelar a todo o custo a privacidade, a reserva, o “segredo” de cada um. Todos – diz-se – têm direito às próprias convicções e às próprias escolhas; mas todos – diz-se ainda - têm também direito a ter para si as próprias ideias, sem ter que forçadamente submetê-las ao olhar indiscreto dos outros. Deste modo procura-se distinguir claramente a vida pública da vida privada, o papel social da identidade pessoal. E o motivo parece apenas um: o de defender profundamente a dignidade de cada um.
As intenções desta defesa da privacy parecem com certeza boas e construtivas. E todavia, existe qualquer coisa que não convence neste raciocínio da sociedade. Aparece, na verdade, um raciocínio contraditório diante do excesso de descaramento que caracteriza a o moderno viver civil. Enquanto, de facto, se prega com insistência o respeito da privacy de cada um, acontece que muitos metem tranquilamente na praça pública os próprios sentimentos e as próprias paixões, frequentemente sem um mínimo de respeito e de decência: jornais, televisões, redes informáticas, estão cheias desta publicidade descarada.
Mas também a nossa vida pessoal funciona deste modo. Todos somos um pouco descarados: por exemplo todos, pelo menos alguma vez, deitamos na cara dos outros os nossos humores, ou sobretudo os nossos maus humores; e deste modo fazemos violência aos outros, impondo-nos prepotentemente a eles a atenção. Acontece assim que a nossa comunicação quotidiana contradiga radicalmente as nossas teorias sobre o respeito da consciência dos outros, sobre a defesa da privacy, sobre a tutela do segredo de cada um.
Precisamente desta contradição quer fazer-nos sair o Evangelho de hoje. "Não há nada de escondido que não deve ser revelado, e de secreto que não deva ser manifestado. Aquilo que vos digo nas trevas dizei-o na luz, e aquilo que escutais ao ouvido pregai-o sobre os tectos" (Mt 10,26s.).
Por outras palavras: há um tempo para calar e um tempo para falar; um tempo para manter os segredos e um tempo para os revelar. Quer dizer: há o tempo da escuta e o tempo do anúncio; o tempo em que abres o ouvido e o tempo em que abres a boca; o tempo em que fazes silêncio diante de uma verdade que não é tua e o tempo em que dás voz à verdade que descobriste. São dois tempos diversos, mas ambos necessários à vida do homem. Por que não basta defender a própria privacy: correr-se-ia o risco do isolamento, e por último o medo obsessivo. Como doutra parte não basta dar voz às próprias ideias: correr-se-ia o risco de falar no vazio, com violência e sem razão. E afinal há um tempo para calar e um tempo para falar.
Não nos resta então, se não invocar o Pai de Jesus, para que encha da sua verdade os nossos silêncios e os nossos segredos. Somente Ele – o Senhor perscruta o coração e a mente, o Deus que conhece todos os cabelos da nossa cabeça – somente Ele poderá preencher de sentido as nossas palavras; e somente a sua verdade poderá de verdade libertar-nos do medo e da violência de todos os dias.
A PALAVRA É REZADA
Faz-me testemunha do teu evangelho, Senhor!
Dá-me coragem para não negar que te conheço,
quando os colegas riem falando de ti como de um mito
e dos teus seguidores como de gente alienada.
Dá-me força para não me assustar,
quando me apercebo que ser coerente
com o teu ensinamento pode significar ser alguém que perde
e encontrar barradas muitas estradas na sociedade.
Dá-me a alegria de saber que estou contigo,
quando fico isolado dos amigos que consideram
uma perda de tempo a oração e a Eucaristia.
Dá-me a graça de superar todo o respeito humano
para não me envergonhar do Evangelho,
quando ser-lhe fiel comporta o sentir-me “diverso”
da grande multidão que faz opinião e costume.
Faz-me testemunha do teu evangelho, Senhor!
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)