SOLENIDADE DO NATAL – MISSA DA VIGILIA – ANO B
24 dezembro 2020
AS LEITURAS DO DIA
Is 62, 1-5: Serás o encanto do Senhor.
Salmo, 88: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.
Act 13, 16-17.22-25: Testemunho de Paulo acerca de Cristo, Filho de David.
Evangelho Mt 1, 18-25: Maria dará à luz um Filho, e tu pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
A PALAVRA É MEDITADA
Agora continua a sua conceção apresentando o papel e a missão de José sob o ponto de vista de Deus. José é um homem justo (v.9). O seu problema não é principalmente a situação nova que se criou com a sua noiva Maria, mas a sua relação com este menino que está para nascer e a responsabilidade que sente para com ele. José é chamado justo porque sintetiza na sua pessoa a atitude dos justos do Antigo Testamento e em particular a de Abraão (cfr Mt 1,2-21 com Gen 17,19).
A justiça de José não aquela "segundo a lei" que autoriza a repudiar a própria mulher, mas aquela "segundo a fé" que pede a José para aceitar em Maria a obra de Deus e do seu Espírito e lhe impede de se atribuir a si os méritos da acção de Deus.
De sua iniciativa José não considera poder tomar consigo uma pessoa que Deus reservou para si. Ele retira-se diante de Deus, sem contestar, e renuncia a tornar-se o esposo de Maria e o pai do menino que está para nascer; por isso decide mandar secretamente Maria de volta para a sua família.
José é justo de uma justiça que descobriremos no seguimento do evangelho, aquela que se exprime no amor dado sem discriminações a quem o merece e a quem não o merece (Mt 5,44-48) e está resumido na "regra de ouro": "Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-lho vós também" (Mt 7,12). O homem justo é misericordioso como Deus é misericordioso.
A crise de José tem o mesmo significado da objeção de Maria em Lucas 1,29. Maria ficou perturbada porque não sabia o que significasse a saudação do anjo. José está incerto porque não sabe explicar-se aquilo que aconteceu em Maria. Maria pode pedir a explicação ao anjo, mas José não sabe a quem se dirigir; por isso decide pôr-se de lado esperando que alguém venha libertá-lo das suas perplexidades.
Mateus põe em relevo a identidade messiânica de Jesus afirmando a sua descendência de David, ao qual Deus tinha prometido um descendente que teria reinado eternamente sobre a casa de Jacob (cfr Lc 1,33; 2Sam 7,16). Portanto, segundo a genealogia, Jesus é descendente de David, não em virtude de Maria, mas de José (v.16). é por isso que Mateus apresenta José como destinatário do anúncio com que lhe vem dada a ordem de tomar Maria consigo e de dar o nome a Jesus. José reconhecendo legalmente Jesus como filho, torna-o para todos os efeitos descendente de David. Jesus será assim reconhecido como filho de David. ( Mt 1,1; 9,27; 20,30-31; 21,9; 22,42).
O nome de Jesus significa "Deus salva". A promessa de salvação contida no nome de Jesus é apresentada em termos espirituais como salvação dos pecados (v. 21). Também para Lucas a salvação trazida por Jesus consiste na remissão dos pecados (Lc 1,17). Nestas palavras está a nítida rejeição de um messianismo terreno: Jesus não veio para conquistar o reino de Israel ou libertar a sua nação do domínio estrangeiro.
A singularidade da aparição do anjo consiste no facto que essa acontece em sonho. Mateus talvez apresente José segundo o modelo do patriarca José, vice-rei do Egipto (Gen 37,5ss). A coisa importante é que a aparição do anjo esclarece com segurança que a ordem vem de Deus.
No versículo 22 encontramos a primeira citação do Antigo Testamento. Esta é precedida pela fórmula introdutiva: "Tudo isto aconteceu para que se cumprisse aquilo que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta". Com esta expressão Mateus quer dar-nos a ideia do cumprimento das intenções de Deus contidas na Escritura. É importante notar que através do profeta Deus falou. Com a citação de Isaías 7,14 Mateus apresenta a geração de Jesus como um parto virginal.
Jesus qual Emanuel, Deus connosco, constitui um motivo central do evangelho de Mateus. Esta citação de Isaías forma uma inclusão com a última frase do evangelho: "Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo" (Mt 28, 20).
José, homem justo, desperta do sono e age. A execução descreve a sua obediência. Embora tomando consigo Maria, ele não a conhece. O conhecer indica já em Gen 4,1 a relação sexual.
A imposição do nome de Jesus por obra de José garante diante da lei a descendência davídica do filho de Maria.
A PALAVRA É REZADA
Senhor,
dá-me também hoje a força
para acreditar, para esperar, parar amar.
não me deixes a meio do caminho
mergulhado nas mil coisas
que não me bastam mais.
deixa que pare também eu
todos os dias a escutar-te
para retomar depois o caminho
ao longo das estradas que me dás a percorrer.
Liberta-me por isso de tudo o que
me parece indispensável e não o é,
daquilo que julgo necessário
e afinal é apenas supérfluo,
daquilo que me enche e me faz inchar
mas não me sacia,
me molha os lábios
mas não me mata a sede do coração.
Sim, eu sei que tu queres fazê-lo
mas ajuda-me a deixar-to fazer
sempre, e logo!
Ámen.
(In Qumran2.net, e La Chiesa.it: tradução livre de fr. José Augusto)