VIII DOMINGO TEMPO COMUM – ANO C
3 de Março de 2019
AS LEITURAS DO DIA
Sir 27, 5-8: Não elogies ninguém antes de ele falar.
Salmo 91: É bom louvar o Senhor.
1Cor 15, 54-58: Deu-nos a vitória por Jesus Cristo.
Evangelho Lc 6, 39-45: Não vos inquieteis com o dia de amanhã.
A PALAVRA É MEDITADA
S. Lucas continua o “discurso da planície” apresentando Jesus como a expressão máxima da misericórdia divina. Os versículos de hoje encerram este discurso de Jesus, na maior parte dirigido aos discípulos. Na comunidade existem problemas internos: alguém se julga superior aos outros e emite juízos sobre os outros como se a religião fosse qualquer coisa a dizer e ensinar "para os outros", e não para si próprios em primeiro lugar. A nova sociedade começa dentro da comunidade se começarmos a transformar profundamente as relações entre nós.
1. Só Deus pode julgar (vv. 39-40)
Porque será que as pessoas têm tanta pressa em emitir juízos? "Pode um cego guiar outro cego?..." (v. 39). Só Deus pode julgar (vv. 37-38). Em Mateus (cfr. 15,14) cegos são os fariseus, mas em Lucas são os discípulos que, julgando, pretendem colocar-se no lugar de Deus. Querer julgar os outros pode parecer um gesto de amor, mas quando somos cegos e pretendemos ser guias, o nosso amor é puro egoísmo.
"Um discípulo não é maior que o mestre. Todo o discípulo bem formado será como o Mestre" (v. 40). O Mestre é Jesus: Ele não julga nem condena (cfr. Jo 3,17). O novo modo de nos relacionarmos pressupõe uma comunidade onde ninguém julga ninguém (cfr. 6,37).
2. Correção fraterna (vv. 41-42)
Se Deus é o único que pode julgar, como agir diante das pessoas que erram? O evangelho diz que é hipocrisia querer tornar melhores os outros, porque pretendendo corrigir o próximo, facilmente tornamo-nos juízes ou guias dos outros. A norma comum é a misericórdia do Padre (v. 36). É fácil praticar uma religião "para os outros"; é difícil ver a trave nos nossos olhos. Se não queremos ser hipócritas, devemos tirar primeiro a trave dos nossos olhos.
Uma pessoa má pode, com a sua crítica, melhorar os outros? O que fazer portanto diante dos erros dos outros? Se calhar serve o "tratamento do espelho": procurar imitar o bem que vemos nos outros e corrigir dentro de nós aquilo que pensamos errado nos nossos semelhantes.
3. as acções mostram quem são as pessoas (vv. 43-45)
Ainda Mateus aplica a comparação da árvore boa e má aos fariseus (cfr. Mt 12,33-35). Lucas aplica-o á comunidade: a prática revela quem são as pessoas (v. 44). Jesus é a árvore boa que produz frutos de libertação. A sua morte gerou vida nova e mostrou o que significa criar relações sociais justas. Pela causa do Reino deu a vida. Os seus gestos revelam a sua identidade.
Podemos perguntar-nos a respeito das escolhas preferenciais de cada pessoa e da comunidade inteira. Relações sociais perversas são sinal de escolhas sociais perversas.
"O homem bom tira para fora o bem do precioso tesouro do seu coração; o homem mau ao contrário, do seu mau tesouro tira para fora o mal. Com a boca se exprime tudo aquilo que se tem no coração" (v. 45).
Para refelctir
Sinceridade e hipocrisia são um pouco como as margens dentro das quais correm as nossas relações. Focalizar os ciscos e as traves, depende, diz Jesus, das nossas escolhas fundamentais, isto é sobre aquilo em que apostamos a nossa vida. Frequentemente nos consideramos "peritos" em apontar o dedo contra os outros, mas falta-nos a experiência paciente da misericórdia. Somos zelosos em querer limpar o terraço e quem sabe até a casa do irmão e não nos damos conta que o nosso "tesouro interno", talvez, não seja assim tão precioso, ou, pelo menos, nada de mais e em melhor que o das pessoas que criticamos.
Uma religiosidade que não paga de pessoa com o preço da misericórdia é simples hipocrisia, parece dizer-nos o texto de hoje.
E contudo, a questão é rela, precisamente dentro das comunidades cristãs. Os "espelhos" parecem muitas vezes devolver-nos uma imagem narcisística, do nosso "sentir-nos juízes e guias".
Devemos perguntar-nos o que será este "bom tesouro do coração" que nos possa ajudar a fazer escolhas coerentes, sem substituir Deus. todo o disicpulo bem formado será como o Mestre ... a boca fala aquilo que temos no coração; o que anunciamos aos quatro ventos e o que é que pelo contrário não dizemos? A correção fraterna exige a eliminação de métodos tenebrosos nas nossas relações …
Não podemos perder a esperança: se os nossos frutos não são grande coisa, podemos mudar, crescer. A graça não nos faltará com certeza, porque Deus é o grande interessado na qualidade da nossa colheita. O que é que "manifesta" a nossa história humana chamada a ser imagem e semelhança de Deus da Vida? É aquele tesouro no coração de que a palavra se faz mensageira e o testemunho garantia. É no falar que o homem se revela e mostra o seu coração, diz-nos Bem Sirá. A morte mostrará sempre o seu aguilhão e a força da sua lei, mas sabemos que a nossa fadiga não é inútil no Senhor.
A PALAVRA É REZADA
Cada tua palavra, Senhor, rasga-me no profundo,
pondo a nu a minha infidelidade.
Cada tua palavra faz ver em frente o horizonte do meu caminho.
Cada tua palavra, Senhor inquieta o coração que julga estar convertido
e descobre, afinal, que ainda está por converter.
Cada tua palavra arranca-me da paz alcançada
e põe-me diante de um cume mais alto a atingir.
És mesmo exigente, Senhor, mas és assim porque me amas a sério
e sabes que dentro de mim está a tua Graça
que fecunda toda a minha fadiga.
Devo agradecer-te, Senhor, porque percebi que fazes voar alto
O de o céu é mais limpo, o horizonte mais vasto
e o respiro é mais tonificante.
Ámen
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)