XVII DOMINGO TEMPO COMUM – ANO B
29 de Julho de 2018
AS LEITURAS DO DIA
2 Rs 4, 42-44: Comerão e ainda há-de sobrar.
Salmo 144: Abris, senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.
Ef 4, 1-6: Procedei com toda a humildade, mansidão e paciência.
Evangelho Jo 6, 1-15: Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?
A PALAVRA É MEDITADA
Tomou os pães, deu graças, distribuiu-os quantos queriam. E enquanto o distribuía, o pão não faltava, e enquanto passava de mão em mão, ficava em cada mão.
A minha tentação é de não o chamar milagre da multiplicação, mas milagre da distribuição. Creio que seja mais fácil multiplicar, que não distribui-lo. «Há tanto daquele pão sobre a terra que a partilhá-lo bastaria para todos» (Turoldo). «No mundo, o cristão não fornece pão, fornece fermento» (M. de Unamuno). À humanidade o cristão não garante bens, mas um fermento particular para um pão que já abunda na terra. É a força que moveu aquele rapaz que tinha cinco pães de cevada e dois pequenos peixes, que os mostra a André e André o diz a Jesus, e Jesus toma-os.
E dá graças: a Deus, origem de todos os bens, mas certamente também àquele rapazito, capaz de fornecer o fermento da multiplicação, capaz de ele do primeiro milagre: dar tudo aquilo que tinha, confiar completamente, arriscar a própria fome. O nosso modelo hoje é um rapaz sem nome e sem rosto, que dá tudo aquilo que tem para viver e tece assim a prodigiosa espiral da partilha.
O problema verdadeiro do nosso mundo não é a penúria de pão, mas a pobreza daquele fermento que nos chama fazer de tudo aquilo que temos, sacramentos de comunhão. A falta daquele fermento de Deus capaz de reerguer a vida.
Três são os verbos de Jesus: tomou, deu graças, distribuiu. São os verbos que fazem da tua vida um evangelho. O homem só pode tomar e receber - a vida, a criação, as pessoas, os bocados de pão -, só pode agradecer e bendizer por tudo, mesmo pelas migalhas que sobram e são sagradas e devem ser guardadas, só pode dar. Porque a vida é como um respiro, que não podes conservar pata ti ou acumular; como um maná que para amanhã não dura.
Então: recebe, agradece, dá. Tu és rico só daquilo que deste. E queriam faze-lo rei. A multidão é religiosa só aparentemente: quer um Deus à disposição, um fornecedor de pão a bom preço, alguém que mate todas as suas fadigas, os prantos, os medos que povoam o coração. Mas Jesus guia-nos da fome de pão à fome de Deus, o pão que Jesus distribui prefigura o seu corpo dado por nós, princípio da nossa vida.
Não quer reinar sobre ninguém, mas pôr a vida nas nossas mãos. A sua. Nós somos feitos para a felicidade, mas nesta coisa da vida, nesta fúria de viver que nos apanha a todos, não nos preocupamos em multiplicar dentro de nós as nascentes interiores que só dão a felicidade. Por isso, hoje peço ao Senhor que dê o pão a quem tem fome, mas que acenda fome Dele, fome de coisas grandes, em quem está saciado só de pão...
A PALAVRA É REZADA
Ó Jesus, a multidão procura-te, segue-te,
vem a ti com os corações feridos, a sua angústia,
os seus doentes, segura que tu os terias aliviado dos seus pesos.
Diante dos sofrimentos, que os homens têm no corpo e no espírito,
vens ao encontro das suas necessidades,
multiplicas aquele pouco de bom que têm,
como fizeste com os poucos pães e peixes;
demonstras que não estás ausente da humanidade
e não te desinteressas deles.
Somos chamados a amar o próximo,
ainda amais quanto este é pobre, em dificuldade.
Faz ó Senhor Jesus, que todos encontrem em nós uma porta aberta
e um coração disponível
e que nenhum de nós feche o coração e a carteira
diante de quem passa necessidade.
O cristão nunca deveria jantar sozinho,
mas sempre com os irmãos necessitados.
Na Eucaristia, por amor dás-te a ti mesmo como sacrifício de salvação
e com todos os crentes que encontras partilha todo o teu amor.
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)