VIGILIA PASCAL – ANO A
11 de Abril 2020
AS LEITURAS DO DIA
Evangelho Mt 28, 1-10: Não Está aqui: Ressuscitou.
A PALAVRA É MEDITADA
A narração da paixão e morte de Jesus concluiu-se com a sepultura por obra de José de Arimateia. Logo a seguir, porém, recorda-se a solicitude dos sumos sacerdotes que pedem a Pilatos para colocar guardas no sepulcro para evitar que os discípulos viessem buscar o corpo de Jesus. Os guardas teriam, pois, selado o sepulcro. A narração salta depois para o dia seguinte, o primeiro da semana, de madrugada.
Depois da narração da ressurreição está, ao invés, o encontro de Jesus com os seus discípulos na Galileia e o seu mandato de batizar todas as gentes. Em poucas pinceladas o evangelho de Mateus fecha-se com a ressurreição de Jesus e a abertura, o anúncio do evangelho a todo o mundo.
1 Depois do sábado, na madrugada do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro.
Maria Madalena é muito conhecida. A outra Maria é provavelmente a mãe de Tiago e de José, de que se fala em Mt 27,56. Estas duas mulheres no momento da sepultura encontravam-se perto do tumulo (Mt 27,61). No dia de sábado ficaram na cidade, observando a festa solene da Páscoa, mas no dia a seguir voltaram ao sepulcro de Jesus. Era costume entre os judeus vigiar o túmulo de uma pessoa até ao terceiro dia depois da morte, para se assegurarem que a sepultura não tivesse sido prematura.
2 E eis que houve um grande terremoto. Um anjo do Senhor, desceu do céu, aproximou-se, retirou a pedra e sentou-se em cima dela.
Enquanto as mulheres se perguntam quem é que iria retirar a pedra para elas, afinal a pedra já a encontram desviada. Também aqui como na narração da morte de Jesus há um terramoto: a ressurreição de Jesus é de natureza apocalíptica, como a sua morte, e os dois acontecimentos iluminam-se reciprocamente. Nas narrações da infância de Jesus em Mateus os anjos tinham tido uma parte importante em comunicar e esclarecer a vontade de Deus. Aqui o anjo, porém, não é um simples interprete do acontecimento, é um dos protagonistas, pois faz arredar a pedra do sepulcro.
3 O seu aspeto era resplandecente e o seu vestido branco como neve.
O anjo do Senhor vem descrito em termos teofânicos, que recordam a visão de Dn 10,6, já utilizada para a narração da Transfiguração de Jesus (Mt 17,2). Mateus não está descrevendo o ressuscitado, mas envia implicitamente ao aspeto glorioso de um corpo já praticamente transfigurado.
4 Pelo medo que tiveram dele, os guardas ficaram como mortos.
Os guardas começaram a tremer e ficaram como mortos, isto é, absolutamente incapazes de cumprir o seu dever. Mateus não está a descrever a ressurreição de Jesus, mas dá-nos as chaves para a compreensão do acontecimento. Não afirma que Jesus tenha ressuscitado no momento preciso em que a pedra foi retirada do sepulcro: porém diz-nos que os guardas encarregados de fazer a guarda ao sepulcro eram perfeitamente inúteis.
5 O anjo disse às mulheres: «Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, o crucificado.
O anjo faz-se intérprete e convida as mulheres não ter medo. Diz explicitamente "não tenhais medo". O anúncio pascal é semelhante ao de Marcos: vós procurais o crucificado. Jesus permanece o crucificado mesmo depois de ressuscitado.
6 Não está aqui. Ressuscitou como dissera; vinde ver o lugar onde jazia.
O anúncio pascal continua. O crucificado não está aqui, ressuscitou. Ressuscitou como tinha dito: aqui vê-se ainda o interesse de Mateus pelo cumprimento das profecias. Jesus tinha predito várias vezes a sua morte e a sua ressurreição. Vede o lugar: o sepulcro vazio não é a prova da ressurreição, mas um sinal.
7 Ide depressa dizer aos seus discípulos: "Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia; lá o vereis". Era o que tinha para vos dizer».
O anúncio pascal termina com um mandato: anunciai-o aos discípulos. Esta é para eles uma palavra de perdão. Eles vêm reabilitados pelo anúncio das mulheres. Jesus precede-os: este termo tem dois significados. O primeiro é: Jesus já está na Galileia e espera-vos. O segundo: Jesus voltará a ser o vosso guia. O anjo termina dizendo: era o que tinha a dizer-vos. Este final podia ter o objetivo retorquir à acusação que de que teriam sido os discípulos a encenar a ressurreição. Ou então parece concluir a realização da profecia de Ez 37 ("Disse-o e o farei", aqui fê-lo e disse-o).
8 Abandonado à pressa o sepulcro com temor e grande alegria, as mulheres correram a levar a notícia aos discípulos.
A este ponto Marcos falava do medo das mulheres que se afastavam sem dizer nada a ninguém. Mateus muda a perspetiva e introduz a aparição de Jesus às mulheres, enquanto elas vão a correr a realizar aquilo que o anjo lhes tinha dito.
9 Jesus saiu ao seu encontro e saudou-as. E elas aproximaram-se, abraçaram-lhe os pés e adoraram-no.
Jesus dá às mulheres um anúncio de paz e de alegria. A atitude das mulheres é descrita com termos muito familiares em Mateus. A atitude certa a ter diante de Jesus é a adoração (como fizeram os Magos, Mt 2,1-12).
10 Então Jesus disse-lhes: «Não temias; ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia: lá me verão».
Jesus não acrescenta nada as palavras do anjo. Esta repetição poderia mostrar que se trata de um simples duplicado posto por Mateus para justificar a brusca conclusão de Marcos, ou então para pôr ainda mais em evidência a solenidade do anúncio e do mandato aos seus discípulos.
Para meditar
- Existe alguma coisa de Jesus, que atrai o meu coração, não obstante a sua ausência, como o seu sepulcro traiu as mulheres?
- Qual é a atitude das mulheres diante do anúncio do anjo? Qual pode ser a minha atitude diante da ressurreição de Jesus?
- O que é que significa para mim "voltar para a Galileia"?
A PALAVRA É REZADA
Aquela pedra que tapava o teu sepulcro
era um autêntico pedregulho
posto ali a selar a tua derrota:
uma vez entrado nas mãos da morte,
tu poderias permanecer aí para sempre, Jesus.
Era o único modo seguro para te parar verdadeiramente:
assim não terias mais
feito entender a tua palavra,
assim os teus gestos
de cura e de misericórdia
não teriam mais chegado aos pobres e doentes da terra.
Imerso na escuridão da morte,
apagada para sempre a tua luz,
os homens ter-te-iam esquecido...
Mas ao terceiro dia aquela pedra foi revirada
e com ela resultaram inúteis
a violência e a maldade desencadeadas contra ti.
Com ela reviraram-se
as pretensões devastadoras de quem
queria eliminar-te da face da terra.
Eis porquê, Senhor ressuscitado,
hoje para nós é um grande dia de festa:
ressurgindo da morte tu fazes em pedaços
a arrogância dos poderosos
e despertas a esperança dos pobres,
manifestas a força do amor
e ofereces a todo o homem a tua presença de graça.
Tu és o Vivente pelos séculos dos séculos!
Ámen
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)