V DOMINGO DA QUARESMA
2 de Abril de 2017
ANO A
AS LEITURAS DO DIA
Ez 37, 12-14: Infundirei em vós o meu espírito e revivereis.
Salmo 129: No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.
Rom 8, 8-11: O Espirito que ressucitou Jesus habita em vós.
Evangelho Jo 11, 1-45: Eu sou a ressureição e a vida.
A PALAVRA É MEDITADA
A longa narração da ressurreição de Lázaro é escrita, sem dúvida, com muita arte. Muitos os aspectos que se poderiam sublinhar. Considero, porém, que o ponto central seja a sobreposição de dois acontecimentos: Lázaro abandonado à morte e Jesus abandonado à Cruz. A narração inicia com um apelo das irmãs: «Senhor, aqueles que tu amas está doente». Mas para acolher este apelo, Jesus deve regressar à Judeia metendo em perigo a própria vida. É esta consciência que João desenvolve para sobrepor os dois acontecimentos. Ambos são para o homem um escândalo. Jesus ama Lázaro (este motivo é repetidamente sublinhado) e todavia deixa-o morrer: porquê?
Cada um compreende que se trata de um mistério da existência do homem: uma promessa de vida que depois parece desmentida, uma promessa de Deus que depois parece contradizer-se. Um mistério inquietante, que de nenhum modo é atenuado. Também Jesus chorou diante da morte do amigo, tal como experimentou o abandono diante da iminência da Cruz. A morte, tal como a Cruz, continua a ser qualquer coisa de incompreensível: estás diante de Deus que diz que te ama e todavia parece que te abandona. Jesus chora, demonstrando de tal modo que ama Lázaro profundamente. Mas eis a pergunta: «Este que abriu os olhos ao cego não podia também fazer com que este não morresse?». É a pergunta dos presentes e é também a nossa pergunta.
Mas a mesma pergunta, ousaria dizer engrandecida, propõe-se também para a cruz de Jesus. Se Jesus é Filho de Deus, amado por Deus, porque é que foi abandonado na Cruz? Se Deus está com Ele, não deveria acontecer de forma diversa?
E assim o mistério da existência do homem, amado por Deus e todavia abandonado à morte, espelha-se e engrandece-se no mistério da Cruz de Jesus. Mas também se resolve. Porque existe ver e ver, e da Cruz, como da existência do homem, são possíveis duas leituras. Há o olhar privado de fé de quem se rende ao escândalo, e vê na morte do homem como na Cruz de Cristo o sinal do falimento. E há o olhar que se abre à fé e supera o escândalo, e vê que na Cruz de Jesus brilha a ressurreição, como na morte do homem.
E este é de verdade para os cristãos um ponto firme: se se quer encontrar na história e na vida um sentido, é preciso saber ver na Cruz de Cristo a glória de Deus. Não é possível de maneira diferente. Com este preciso apelo ao mistério da existência do homem – que no mistério da Cruz de Cristo se espelha, se engrandece e se resolve – podemos concluir também a nossa leitura.
João soube transformar o episódio de Lázaro num discurso altamente teológico, e precisamente por isso também existencial, dirigido a todo o homem que tem a coragem de se colocar a questão do sentido sobre a existência.
A PALAVRA É REZADA
Senhor, se tivesses estado aqui.
Quando a angústia nos prende,
quando a dor é insuportável, invoquei-te, e só silêncio.
Procurei do céu a força, pedi ao Alto a resposta,
a minha lamentação ninguém a ouve.
Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão,
meu filho, meu pai, minha mãe, não teriam morrido,
mas eu creio em ti e espero a resposta pela minha fé.
O choro do Alto, ternura sobre a minha miséria, é a resposta,
ninguém se perde se Deus repousa,
ninguém será deixado nas mãos da morte se crê na vida.
Eu creio, Senhor, em ti espero e não ficarei desiludido.
Vem para fora, é o teu convite,
deixarei para sempre a noite e habitarei o dia.
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)