XXVII DOMINGO TEMPO COMUM – ANO C
6 de Outubro de 2019
AS LEITURAS DO DIA
Hab 1, 2-3;2,2-4: O justo viverá pela sua fé.
Salmo 94: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor ...
2Tim 1, 6-8.13-14: Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor.
Evangelho Lc 17, 5-10: Se tivésseis fé!
A PALAVRA É MEDITADA
Jesus usa uma expressão paradoxal – fá-lo com frequência – para exprimir a força da fé: "poderíeis dizer a esta amoreira...". a fé pode obter de Deus seja o que for. Mas o exemplo usado por Jesus não de levar-nos ao engano: a fé não serve para criar efeitos especiais e espetaculares. Normalmente ela não tem como objetivo impedir às coisas que sigam o seu curso. Vemo-lo no exemplo do próprio Jesus. No momento de ser preso ele sabe que o Pai poderia mandar uma legião de anjos para o salvar, mas não o pede: ele deve viver a própria páscoa. A fé serve precisamente e primariamente para isto: viver a própria páscoa pessoal, permite atravessar o mar Vermelho em direção à vida nova. Ter fé significa estar certos que tudo, vida e morte, saúde e doença, riqueza e pobreza, pode servir para o nosso bem. Di-lo S. Paulo: "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus".
O mundo tem as suas leis, e dentro destas leis nós devemos agir de modo positivo para nós e para os outros. Dentro deste quadro devemos realizar o projeto de Deus, fazer a sua vontade. Ter fé significa, por outras palavras, considerar-se servos de Deus. Para que a nossa fé seja autêntica é preciso – eis o segundo ensinamento – ser servos que não avançam nenhuma pretensão em relação ao seu patrão.
Estamos a habituados a contabilizar tudo, e mesmo a nossa relação com Deus: tot de débitos (pecados) tot de créditos (boas ações). Jesus convida-nos a sair desta mentalidade. Deus não é um patrão, mas um Pai, o seu amor é gratuito: não me ama pelos meus títulos de mérito, ama-me gratuitamente, por mim mesmo, não por aquilo que faço ou não faço. Devemos colocar a nossa confiança não naquilo que fazemos de bom, mas na gratuidade de Deus. Se insistimos em nos colocar no plano da justiça, dos méritos, dos débitos e dos créditos, então condenamo-nos, porque não temos nenhuma capacidade de merecer o amor de Deus. Se nos colocamos no plano do amor, compreendemos que não temos nenhum direito a ser amados por Deus; e, todavia, descobrimos que Deus nos ama e se põe - Ele – ao nosso serviço.
A este ponto o círculo fecha-se: se fazemos aquilo que Deus quer, então Deus faz aquilo que nós queremos, atende-nos. Então, poderemos dizer à amoreira: "Arranca-te e vai plantar-te no mar", e obedecer-nos-ia.
A PALAVRA É REZADA
Vês, Senhor, num modo ou no outro,
acumulámos méritos diante de ti:
Consagrámos as nossas energias
ao teu projeto, ao sonho de Deus,
empenhámo-nos para construir
um pouco de justiça e de solidariedade,
levámos a sério as tuas palavras e os teus conselhos,
não escapamos das tuas chamadas de atenção
do teu Evangelho e da nossa consciência.
Eis porque agora te falamos com franqueza,
consideramos ter um pouco esse direito!
Parece-nos que tu desvalorizas
a falta de coragem que nos toma
diante do escândalo de sempre, da ulterior violência,
das caretas prolongadas de quem exibe
um evangelho novo de raiz
e depois falseia as tuas palavras.
À frente deste passo perderemos mais cedo ou mais tarde a vontade de permanecer honestos,
de praticar a misericórdia, de ser considerados doentes de “bonzinhos”,
de nos mostrarmos acolhedores e generosos
mesmo se existe alguém que se aproveita disso …
A nós está a peito viver como dizes tu,
mas não podemos mais tolerar demoradamente uma situação este género!
E tu o que é que respondes?
Tu pedes-nos para não exibir méritos,
mas para fazer a nossa parte com simplicidade e humildade.
Ámen
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)